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Prevenção é o eixo central no combate ao câncer, afirma ex-ministro

© Sergio Velho Junior/Fiocruz Brasília

O enfrentamento ao câncer no Brasil e no mundo exige uma abordagem que transcenda o diagnóstico e o tratamento, defendendo o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão. Para o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o foco central deveria ser a prevenção e a promoção da saúde.

Em entrevista, Temporão ressaltou que o combate ao câncer é um desafio social e econômico, defendendo uma reestruturação do Sistema Único de Saúde (SUS) para melhor atender pacientes com necessidades complexas e reduzir as desigualdades regionais.

O ex-ministro destacou a gravidade do câncer, um conjunto de doenças que já é a principal causa de mortalidade em mais de 600 municípios brasileiros. A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta que o câncer ultrapassará as doenças cardiovasculares como principal causa de morte no mundo. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) estima 35 milhões de novos casos em 2050 globalmente. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê cerca de 700 mil novos casos por ano.

Temporão alertou que 70% das mortes por câncer ocorrem em países de baixa e média renda, evidenciando uma desigualdade no acesso à prevenção e ao tratamento. Ele enfatizou que o câncer é um problema multifacetado, com dimensões sociais, econômicas e éticas.

Para o ex-ministro, o senso comum direciona o foco para o tratamento, mas a prevenção, através do controle de fatores de risco como tabagismo, consumo de álcool, obesidade, sedentarismo e poluição ambiental, é crucial. Esses fatores ambientais são responsáveis por 90% dos casos de câncer, tornando essencial o enfrentamento de questões complexas que exigem políticas transversais e intersetoriais.

O diagnóstico precoce é fundamental, com uma rede de atenção básica capaz de identificar sintomas iniciais e realizar rastreamentos. Embora o Brasil possua a maior rede de atenção primária do mundo, seu desempenho é heterogêneo, com disparidades regionais em cobertura e qualidade.

Temporão abordou as tecnologias revolucionárias em tratamento, como a imunoterapia, mas destacou o alto custo desses medicamentos, limitando sua incorporação em sistemas de saúde de países em desenvolvimento. Ele mencionou a Comissão Nacional de Incorporação e Tecnologias no SUS (Conitec), responsável por avaliar e aprovar a incorporação de novas tecnologias no sistema, considerando a custo-efetividade e a disponibilidade orçamentária.

Para cumprir a lei que determina o início do tratamento contra o câncer em até 60 dias após o diagnóstico, Temporão defendeu a superação da pulverização do sistema de saúde, com mais de 5 mil municípios responsáveis pela saúde, e a adoção de um modelo de regiões de saúde, congregando municípios e garantindo autonomia para contratar equipes e fazer compras.

O rastreamento organizado para câncer de colo de útero, retal, mama e próstata é fundamental, com as unidades básicas seguindo protocolos e os médicos de família trabalhando com cadastros atualizados das famílias atendidas. O apoio de especialistas, inclusive por meio da telemedicina, é essencial.

Temporão mencionou o potencial das novas tecnologias de comunicação a distância, como telemedicina e telesaúde, para ampliar o acesso. A inteligência artificial pode melhorar a precisão dos laudos de diagnóstico, embora seja fundamental a revisão humana.

Ele alertou para os desafios da desinformação, com pacientes buscando informações online e nas redes sociais, e enfatizou a necessidade de uma estratégia de comunicação consistente e culturalmente adequada, com dados transparentes e uma regulamentação da publicidade de produtos como álcool e ultraprocessados.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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