Imagine uma vida onde o elemento mais essencial se torna um inimigo. Essa é a realidade de Vera Oliveira, 52 anos, moradora de Urupá (RO), que enfrenta uma alergia rara e debilitante: a urticária aquagênica. A condição transforma cada gota d’água, inclusive o suor, em um potencial gatilho para crises de coceira intensa, vermelhidão e lesões na pele.
Diagnosticada aos 48 anos, a urticária aquagênica de Vera surgiu de forma inesperada, transformando atividades cotidianas em desafios. “Quando eu ia tomar banho, ficava muito vermelha. O corpo queimava como se eu tivesse tomado banho em água quente”, relata Vera, descrevendo a sensação excruciante que a levava a evitar o banho por até cinco dias. Escovar os dentes também se tornou um tormento, com a garganta queimando e a língua inchando.
As limitações impostas pela alergia se estenderam para além da higiene pessoal. Lavar louça, manusear alimentos gelados e até mesmo o simples ato de suar desencadeavam reações alérgicas. Vera precisou adaptar drasticamente seu estilo de vida, cortando o cabelo para evitar o contato do suor com o couro cabeludo e renunciando ao uso de ventilador, que causava desconforto ao entrar em contato com a pele.
Até mesmo a hidratação, vital para a sobrevivência, se tornou um obstáculo. Vera só consegue ingerir líquidos em temperatura ambiente e após se medicar. “Já cheguei a tomar comprimido com café, porque eu não conseguia tomar água”, desabafa, relembrando as noites em que acordava com sede e se via impossibilitada de saciar o desejo.
Após uma longa jornada em busca de respostas, que incluiu mais de 300 exames e incontáveis consultas médicas, Vera finalmente recebeu o diagnóstico correto. No entanto, o tratamento para controlar os sintomas da urticária aquagênica impõe um alto custo financeiro, estimado em R$ 45 mil a cada seis meses.
Diante da impossibilidade de arcar com as despesas médicas, Vera, que antes trabalhava como zeladora, recorreu à Defensoria Pública do Estado de Rondônia (DPE-RO). A instituição moveu uma ação contra o Estado e o Município, garantindo o acesso da paciente aos medicamentos necessários por pelo menos seis meses.
A médica alergista e imunologista Sandra Lopes, que acompanha o caso de Vera desde o início, ressalta a importância da continuidade do tratamento por, no mínimo, dois anos. A especialista explica que a urticária aquagênica pode surgir em qualquer fase da vida e que sua causa ainda é desconhecida. O diagnóstico, muitas vezes, é tardio, pois os sintomas podem ser confundidos com outras alergias ou reações a produtos de higiene.
Os sintomas da urticária aquagênica são desencadeados pelo contato da pele com a água, em qualquer temperatura. A condição atinge cerca de 0,5% da população e pode ser confundida com outras urticárias provocadas por frio, calor ou pressão. O contato com a água libera substâncias inflamatórias, como a histamina, que causam vermelhidão, coceira intensa, inchaço e lesões avermelhadas.
“É muito difícil conviver com essa doença, porque ela afeta todo o corpo e também a parte emocional”, destaca Sandra Lopes, alertando para o risco de ansiedade e depressão em pacientes que não recebem o diagnóstico e o tratamento adequados.
Embora não haja cura para a urticária aquagênica, o tratamento garante qualidade de vida e ajuda a controlar as crises. Entre as opções terapêuticas, destacam-se os anti-histamínicos de segunda geração e os imunobiológicos, medicamentos de alto custo indicados para casos graves.
Apesar das dificuldades, Vera mantém a esperança de que não faltem os medicamentos e que possa, um dia, realizar atividades simples que para outras pessoas são corriqueiras. “Eu desejo voltar a tomar meus banhos, comer sorvete, picolé, poder beber um refrigerante bem gelado, dormir bem e, principalmente, poder tomar minha água geladinha”, almeja.
5 Dicas Para Lidar Com Alergias Raras:
1. Busque um Diagnóstico Preciso: Consulte um especialista para identificar a causa dos seus sintomas.
2. Siga o Tratamento Médico: A adesão ao tratamento é fundamental para controlar a alergia.
3. Adapte seu Estilo de Vida: Identifique e evite os gatilhos da alergia.
4. Procure Apoio Psicológico: Lidar com uma alergia rara pode ser desafiador.
5. Mantenha a Esperança: A ciência avança constantemente, e novas opções de tratamento podem surgir.
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Fonte: https://g1.globo.com
