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Massacre em Paraisópolis: Policial diz que ação foi em legítima defesa

© Rovena Rosa/Agência Brasil

Em depoimento no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, a policial militar Aline Ferreira Inácio declarou que a atuação da PM no Massacre de Paraisópolis, que resultou na morte de nove jovens em dezembro de 2019, foi em legítima defesa. A tenente, que ainda está na ativa e era a comandante do efetivo na operação no Baile da DZ7, em Paraisópolis, ressaltou que nenhum policial sofreu ferimentos graves.

Aline Inácio é uma dos 12 policiais que respondem na Justiça por homicídio e podem ser julgados por júri popular após as audiências de instrução. Ela foi a única a depor, enquanto os demais exerceram o direito ao silêncio, numa estratégia para evitar contradições. A audiência coincidiu com um protesto em frente ao Fórum, reunindo centenas de jovens, principalmente negros, em solidariedade às famílias das vítimas.

A policial reiterou a versão de outro policial, Rodrigo Cardoso da Silva, que afirmou que uma segunda viatura foi acionada para proteger colegas supostamente atacados no baile. A versão da PM é que o reforço foi necessário devido a dois indivíduos em uma motocicleta que teriam chegado atirando, causando tumulto e correria.

Familiares das vítimas, advogados e a Defensoria Pública de São Paulo sustentam que os jovens foram cercados em uma emboscada que culminou em uma viela estreita. Laudos de uma biomédica da Unifesp apontam asfixia como a causa das mortes, descartando a hipótese de pisoteamento.

A policial negou que o direcionamento das vítimas tenha sido intencional ou que houvesse bloqueios para impedir rotas de fuga, alegando desconhecer os becos da região. Segundo ela, “a tragédia teria sido muito maior, se fosse feita com esse intuito”.

O Massacre de Paraisópolis ocorreu em um contexto de intensificação das ações contra bailes funk, política criticada por movimentos sociais como criminalização do funk e das comunidades periféricas. Em 2019, a PM realizou 7,5 mil operações sob a justificativa de cumprir a lei do silêncio e combater o tráfico de drogas.

Os advogados das famílias questionam omissão de socorro e o cerco que levou os jovens à asfixia. A policial afirmou ter seguido o protocolo da corporação, evitando ultrapassar suas atribuições para não agravar o estado das vítimas, mas reconheceu que o treinamento em primeiros socorros da PM é “superficial”. “Ali não era uma situação básica”, alegou, afirmando ter atendido uma das vítimas na viatura.

De acordo com a advogada Rosa Cantal, acusação e defesa apresentarão manifestações escritas ao juiz. O magistrado poderá pronunciar os réus, encaminhando o caso ao Tribunal do Júri, reconhecendo a legitimidade da denúncia do Ministério Público. Caso contrário, poderá reclassificar o crime como culposo, absolver sumariamente os acusados ou considerar não comprovadas a autoria e a materialidade do crime. Cantal explicou que, ao reconhecer o crime como doloso, o juiz pode enquadrá-lo em dolo eventual, quando os policiais assumem o risco, ou dolo direto.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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