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Seca Severa no Pará: Escolas e Alunos Sofrem Impactos Climáticos

UNICEF

A crise climática na Amazônia Legal Brasileira, com ênfase nos nove estados que a compõem (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Roraima e Rondônia), tem gerado impactos alarmantes no setor da educação. Um vídeo impactante flagrou dois professores em uma “catraia” lutando para atravessar um braço do rio Jutaí, em Porto de Moz, no oeste do Pará, durante a severa seca que assolou a região em outubro deste ano. A cena dramática ilustra a dura realidade enfrentada por estudantes e educadores, com 436 mil alunos impactados pela suspensão das aulas devido a eventos climáticos extremos em 2024, conforme dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Professores e especialistas entrevistados pelo portal SETENTRIONAL.COM relatam as dificuldades diárias impostas pelas mudanças climáticas no ambiente escolar. Rios secos, calor extremo e a inacessibilidade geográfica são apenas alguns dos obstáculos que comprometem o aprendizado e o acesso à educação na região.

A cidade de Porto de Moz, localizada na região do Baixo Xingu, com seus 40,5 mil habitantes e distante quase 1.000 km de Belém, é um retrato fiel dos desafios enfrentados. A seca não se restringe às salas de aula; ela dificulta a locomoção dos estudantes, danifica motores de embarcações escolares, interrompe aulas e isola comunidades inteiras. O acesso à água potável e serviços essenciais também é severamente afetado.

No Pará, as queimadas, a alteração nos padrões de chuva e a elevação da temperatura criaram um cenário que especialistas consideram irreversível a curto prazo. O Unicef aponta que, somente na região amazônica, “mais de 1.700 escolas e mais de 760 centros de saúde foram fechados ou ficaram inacessíveis devido aos baixos níveis de água em 2024”.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), realizada em Belém, dedicou parte de sua programação para discutir os impactos do clima sobre crianças e adolescentes, com a participação ativa de jovens em ações simbólicas que reivindicam maior proteção ambiental e políticas climáticas voltadas para a infância.

Danillo Moura, especialista em clima e meio ambiente do Unicef Brasil, ressalta que “a educação ainda apareceu de forma tímida na COP, mas tem ganhado espaço nas agendas. A expectativa é que haja um avanço mais sólido que traga o tema para o centro da mesa”.

Secas de Rio Afetam Porto de Moz

Em Porto de Moz, professores relatam que a seca impacta diretamente a rotina escolar. As crianças dependem de pequenas embarcações para chegar às aulas, mas a falta de água nos rios torna trechos intransitáveis durante o verão amazônico, que se estende geralmente de julho a novembro.

Jeremias Lobato, professor e coordenador da Escola Municipal Seguidores de Cristo, vivenciou o problema na pele quando o motor de sua embarcação quebrou ao tentar atravessar um rio seco. Ele explica que os danos aos motores são comuns, resultado direto dos impactos das mudanças climáticas.

A escola de Jeremias está localizada em um território quilombola formado por 12 comunidades, com cerca de 600 famílias. A comunidade, além de lutar pela educação de seus jovens, também monitora e combate o desmatamento e as queimadas, temas que são amplamente discutidos com os estudantes. “Queremos formar cidadãos conscientes, responsáveis e que cuidem da nossa casa comum”, afirma Jeremias.

A seca de 2024 também provocou a falta de água potável, prejudicou a agricultura e dificultou a navegação, um dos principais meios de transporte e escoamento de produtos na região. O Serviço Geológico do Brasil (SGB) registrou que, em 15 de outubro de 2024, o Rio Xingu atingiu o menor nível já registrado para o período: 237 centímetros.

A professora Leiliane Gonçalves, da Escola São João Batista, do Rio Maruá, também em Porto de Moz, precisou alterar o calendário escolar devido à seca do rio Xingu. “Nós precisamos lidar com a situação para manter a educação”, disse.

A solução encontrada foi o ensino remoto, devido às dificuldades enfrentadas por alunos e professores que moram às margens do rio Xingu. O percurso até a escola envolve caminhadas de até 20 minutos para alcançar a primeira embarcação, seguida de um trecho remando até o barco que faz o transporte escolar.

Leiliane relata que as maiores dificuldades são enfrentadas durante o verão amazônico, com suas intensas ondas de calor. As escolas não possuem ventilação suficiente, nem climatização, o que dificulta o ensino e o aprendizado. “Muitas vezes nós, professores, precisamos retirar os alunos de sala e levá-los para debaixo das árvores para respirar um ar mais fresco, porque dentro da escola é muito quente. Às vezes, a gente chega a passar mal, inclusive os alunos, com muitas dores de cabeça”, relata a professora.

Gleicieni Lima, técnica da Secretaria de Educação de Porto Moz, explica que o território é dividido em cinco grandes regiões: Jaurucu, Guajará, Alto Xingu, Baixo Xingu e Acarai. Quando há pouca chuva, todas sofrem bastante com os impactos.

A Prefeitura de Porto de Moz informou que “tem adotado ações para reduzir os impactos da seca e do calor intenso nas comunidades ribeirinhas e no acesso à educação”, incluindo a instalação de sistemas de tratamento de água, perfuração de poços, construção de pontes e abertura de canais para melhorar a navegação.

Educação Sob Calor Extremo

Para Danillo Moura, especialista do Unicef Brasil, o “impacto das mudanças climáticas sobre as crianças, de forma geral, e sobre a educação, de forma específica, é ainda maior em comunidades mais vulneráveis”.

Ele explica que as populações mais afetadas são comunidades isoladas, como as ribeirinhas, indígenas, quilombolas e tradicionais, que já têm acesso mais difícil e tiveram o direito à educação especialmente prejudicado.

“Nessas comunidades, muitas vezes é do rio que depende a ida e a volta da escola, ou até mesmo a chegada do professor para dar aula. Quando o rio não oferece condições de navegação por causa da seca, não é só a educação que fica comprometida, mas uma série de outros direitos fundamentais”, afirma Moura.

O especialista ressalta que os danos à educação na Amazônia “resultam da destruição da floresta associada às mudanças climáticas”, com queimadas intensas, mudanças nos padrões de chuva, secas duradouras e o aumento da temperatura média criando um ciclo vicioso que afeta diretamente a vida de crianças e adolescentes.

Impactos Globais

A situação no Pará reflete um cenário global. Segundo o estudo “Aprendizagem Interrompida: Panorama Global das Interrupções Escolares Relacionadas ao Clima em 2024”, do Unicef, mais de 242 milhões de crianças e adolescentes tiveram aulas interrompidas por emergências climáticas em 2024 no mundo.

A Educação na COP

A COP 30, realizada em Belém, foi marcada pela forte participação popular e por uma série de programações paralelas que mobilizaram movimentos sociais, coletivos e moradores da cidade, com destaque para a atuação de crianças e adolescentes, que organizaram ações simbólicas e fizeram pedidos por mais proteção ambiental e políticas climáticas voltadas para a infância.

O que diz o Governo

A Secretaria de Estado de Educação (Seduc) informou que o Sistema de Organização Modular de Ensino (Some) e o Sistema de Organização Modular de Ensino Indígena (Somei) são modalidades desenvolvidas para garantir atendimento escolar em áreas remotas e em comunidades indígenas do Pará.

5 Dicas para Mitigar os Impactos Climáticos na Educação Amazônica:

1. Invista em Infraestrutura Adaptada: Construa e modernize escolas com sistemas de captação de água da chuva, ventilação natural e energia solar para reduzir a dependência de recursos externos e melhorar o conforto térmico.
2. Flexibilize o Calendário Escolar: Ajuste o calendário escolar para evitar os períodos de seca e calor extremo, priorizando atividades práticas e projetos que conectem os alunos à realidade local.
3. Capacite os Educadores: Ofereça formação continuada aos professores sobre mudanças climáticas, educação ambiental e estratégias pedagógicas para lidar com situações de crise.
4. Fortaleça a Conexão com a Comunidade: Promova a participação das famílias e da comunidade na gestão escolar, incentivando a troca de saberes e a busca por soluções conjuntas para os desafios climáticos.
5. Utilize a Tecnologia como Aliada: Implemente plataformas de ensino a distância e recursos digitais para garantir a continuidade das aulas em períodos de interrupção, além de promover a educação ambiental e o acesso à informação.

Diante desse cenário desafiador, é fundamental que governos, sociedade civil e setor privado unam forças para garantir o direito à educação de crianças e adolescentes na Amazônia, investindo em soluções inovadoras e sustentáveis que promovam a resiliência e a adaptação às mudanças climáticas.

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Fonte: https://g1.globo.com

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