Ativistas do movimento negro avaliam que a igualdade racial ainda é um objetivo distante no Brasil, apesar de avanços em políticas como cotas raciais e demarcação de territórios quilombolas. Essa avaliação surge em um contexto de aumento da violência racial e de movimentos que negam a existência do racismo.
Carmela Zigoni, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), expressa um ceticismo quanto aos avanços na igualdade racial no país. Ela aponta um recrudescimento do racismo, mencionando o caso da invasão de uma escola no Butantã, São Paulo, por policiais militares após a denúncia de um pai insatisfeito com o ensino da cultura afro-brasileira para sua filha. Zigoni critica ainda a gestão anterior do governo federal, que retirou a política de igualdade racial do plano de governo. Ela elogia, contudo, a retomada da política pelo governo atual, com a reinserção no plano plurianual, decretos de regularização fundiária para quilombolas e a alocação de orçamento para a área.
Lúcia Xavier, ativista de direitos humanos e fundadora da ONG Criola, observa que a mudança de governo proporcionou um ambiente ligeiramente melhor para a população negra, mas ressalva que isso não se traduz em avanços significativos nos direitos ou na igualdade racial. Segundo ela, apesar das boas intenções, a desigualdade persiste, assim como a violência contra a população negra. Xavier aponta para a falta de oportunidades de trabalho, a violência policial e as dificuldades enfrentadas por estudantes negros para permanecer nas universidades.
Alane Reis, coordenadora da Revista Afirmativa e ativista da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) e do Instituto de Mulheres Negras (Odara), reconhece algumas conquistas resultantes da luta histórica da população negra, como as políticas afirmativas nas universidades e concursos públicos, e a garantia constitucional dos direitos quilombolas. No entanto, ela ressalta que a efetivação desses direitos ainda enfrenta obstáculos. Para Reis, as políticas afirmativas e o direito à terra contribuíram para a derrubada do mito da democracia racial.
Ela enfatiza a importância de políticas e programas que promovam oportunidades e acesso a direitos para a população negra, que, segundo ela, ainda enfrenta os piores indicadores sociais, especialmente as mulheres negras. Reis destaca a sub-representação da população negra no Congresso Nacional e a ausência de mulheres negras no Supremo Tribunal Federal (STF).
A ativista observa ainda uma mudança positiva na juventude negra, que demonstra orgulho de sua identidade racial, algo que não era comum há algumas décadas.
Dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania revelam que, entre janeiro e novembro de 2025, o Disque 100 recebeu 13.813 denúncias de violações de igualdade racial, incluindo racismo, injúria racial e violência política e étnico-racial. São Paulo lidera o número de denúncias, seguido pelo Rio de Janeiro e Minas Gerais. As mulheres são as principais vítimas de racismo, representando mais da metade das denúncias.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br
