Em uma narrativa visual impactante, a história em quadrinhos “Doce Amargo” lança luz sobre o sofrimento e as dificuldades enfrentadas pelos moradores de Governador Valadares, cidade banhada pelo Rio Doce, após o rompimento da barragem em Mariana. A tragédia, que completa dez anos, deixou um rastro de destruição e poluição, impactando profundamente a vida de milhares de pessoas.
O quadrinista João Marcos Mendonça, morador de Governador Valadares, transformou sua vivência e as de seus vizinhos em uma graphic novel de 186 páginas, publicada pela editora Nemo. A obra, que funciona como um diário em quadrinhos, detalha o cotidiano da população local após a chegada da lama tóxica ao Rio Doce, principal fonte de abastecimento da cidade.
“Doce Amargo” tem como protagonistas o autor e sua família, através dos quais o leitor acompanha as agruras enfrentadas pela comunidade. A história começa duas semanas antes do desastre, quando a cidade já sofria com o racionamento de água devido à seca. A chegada da lama intensificou a crise, levando o caos aos lares e às ruas de Governador Valadares.
O autor relata que o gatilho para iniciar o projeto foi a imagem de caminhões do exército distribuindo água, cena que descreve como um “cenário de guerra”. Suas anotações se transformaram em roteiro e desenhos que retratam o drama das pessoas afetadas.
Um dos méritos da obra é apresentar a tragédia sob uma perspectiva humana, focando nas dificuldades enfrentadas pelos moradores. Enquanto a mídia tradicional cobria os aspectos macro do desastre, “Doce Amargo” aproxima o leitor da realidade da população local, expondo o que não era mostrado nas telas e jornais.
A HQ revela como a degradação ambiental e a poluição da água desencadearam diversos problemas sociais. A obra aborda a morte dos peixes, o mau cheiro, a escassez de água, as restrições no uso de água para fins básicos como descarga e banho, entre outras consequências.
Com traços que remetem ao estilo de Ziraldo, a graphic novel busca atingir tanto o público jovem-adulto quanto crianças, utilizando uma linguagem didática e direta para apresentar os desdobramentos do desastre e conscientizar sobre a importância da preservação ambiental. O autor levou nove anos para finalizar o roteiro, condensando o primeiro ano da crise em um relato impactante e pessoal. “Doce Amargo” emerge como um importante documento sobre um dos maiores desastres ambientais do Brasil, oferecendo uma visão íntima e reveladora do sofrimento humano e da resiliência diante da adversidade.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br
