Após anos de desafios logísticos, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será realizado no arquipélago do Bailique, beneficiando diretamente 172 estudantes da região ribeirinha de Macapá, no Amapá. A medida, que entra em vigor a partir da edição de 2025, elimina a necessidade de longas e exaustivas viagens de barco até a capital para a realização das provas.
Anteriormente, os candidatos enfrentavam trajetos de até 16 horas em embarcações, expostos às intempéries do clima e às dificuldades da navegação, como marés fortes e a necessidade de dormir em redes durante o percurso. Essa realidade, agora superada, representava um obstáculo significativo para o desempenho dos estudantes, que chegavam exaustos ao local de prova.
A realização do Enem no Bailique é resultado de uma decisão judicial que atendeu a uma recomendação do Ministério Público Federal no Amapá, considerando os riscos e as dificuldades enfrentadas pelos alunos. A Justiça Federal determinou que as provas fossem aplicadas na própria comunidade, levando em conta as condições específicas da região.
As provas serão aplicadas na Escola Cláudio dos Santos Barbosa, com o apoio logístico do governo estadual. A instituição foi escolhida por oferecer as condições adequadas para a realização do exame, apesar de o Inep ter inicialmente alegado critérios técnicos para justificar a não aplicação das provas no local.
A professora Ciane Saldanha, que acompanha de perto a preparação dos estudantes do arquipélago há anos, expressou seu alívio e gratidão pela mudança. Segundo ela, a realização do Enem no Bailique representa um avanço significativo na garantia da igualdade de oportunidades para os jovens da região.
“Esse ‘sacrifício’ era real, eram horas, às vezes dias, de barco, dormindo em redes, chegando exaustos para fazer a prova. Agora melhorou 100%”, disse a professora.
A expectativa é que a proximidade do local de prova contribua para o aumento da motivação e da confiança dos alunos, permitindo que eles demonstrem o resultado de meses de estudo sem o desgaste físico e emocional causado pelas longas viagens.
“Como educadora, é um orgulho imenso ver a juventude ribeirinha encarar o Enem com esperança prática. O que mais me emociona é ver a igualdade de oportunidades ser concretizada”, enfatizou Ciane Saldanha.
O arquipélago do Bailique, localizado a cerca de 160 km de Macapá, é composto por oito ilhas, 52 comunidades e aproximadamente 8 mil habitantes. A região enfrenta desafios como a erosão das margens dos rios e o aumento da salinidade da água, que dificultam o acesso à água potável.
Fonte: g1.globo.com
