Um estudo recente revela um aumento expressivo da influência de facções criminosas na Amazônia Legal. Em 2025, 344 municípios da região estão sob a influência de organizações como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), um salto de 32% em relação ao levantamento anterior, que registrava 260 cidades.
Essa expansão criminosa significa que aproximadamente 45% dos 772 municípios que compõem a Amazônia Legal agora enfrentam a presença de facções. O estudo identificou a atuação de 17 facções diversas, entre grupos nacionais e organizações estrangeiras, o que configura um cenário complexo e fragmentado.
O Comando Vermelho se destaca com presença em 286 municípios, exercendo domínio em 202 deles e disputando território em outros 84. O PCC, por sua vez, influencia diretamente 90 cidades amazônicas, com hegemonia em 31 e em disputa em 59. Além dessas organizações de grande porte, facções regionais como o Bonde dos 40 (B40), a Tropa do Castelar e a Família Terror do Amapá, assim como grupos estrangeiros como o Tren de Aragua (Venezuela) e o Estado Maior Central (Colômbia), também operam na região.
O levantamento aponta municípios críticos, como Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), cuja proximidade com a Bolívia a torna um ponto estratégico para o tráfico. A cidade registrou um aumento alarmante de assassinatos, saltando de 12 em 2022 para 42 em 2024, ligado ao domínio do CV sobre o garimpo ilegal. Rio Preto da Eva (AM) enfrentou disputas acirradas entre PCC e CV até meados de 2024, com indícios de que o CV consolidou seu controle. São Félix do Xingu (PA), classificado como município médio, sofre com a sobreposição de desmatamento, conflitos por terra, presença de facções e áreas indígenas. Sorriso (MT), importante polo do agronegócio, lidera a taxa de mortes violentas, com 77,7 homicídios por 100 mil habitantes. Outros municípios mencionados no estudo como áreas de grande violência e conflito com facções incluem Coari, Iranduba, Tabatinga e Santa Inês (AM), além de Altamira e Itaituba (PA).
O estudo demonstra a intrincada relação entre o crime organizado e a exploração ilegal da floresta. As facções atuam na extração mineral ilegal, no desmatamento e no garimpo, não se limitando apenas ao tráfico de drogas. Em Mato Grosso, o CV impõe mensalidades a garimpeiros que operam balsas e escavadeiras, sob pena de violência. Essa lógica territorial e financeira estabelece uma “simbiose” entre poder bélico e poder econômico, explorando ilegalmente os recursos naturais.
Em 2024, a Amazônia Legal registrou 8.047 mortes violentas intencionais. A taxa de homicídios regional alcançou 27,3 por 100 mil habitantes, 31% acima da média nacional. O Amapá se destacou como o estado mais letal, com uma taxa de 45,1 homicídios por 100 mil habitantes. Em relação à violência contra a mulher, 586 mulheres foram assassinadas na Amazônia Legal em 2024, com uma taxa de 4,1 por 100 mil, 21,8% acima da média nacional. Mato Grosso apresentou a taxa feminina mais alta, com 5,3.
O avanço das facções na Amazônia Legal representa um perigo para a segurança, o meio ambiente e a sociedade. A presença criminosa se concentra em áreas estratégicas, como áreas de garimpo, reservas indígenas e regiões remotas de desmatamento, o que prejudica os esforços de governança climática, pois o crime organizado utiliza as rotas de tráfico para lavar dinheiro por meio do desmatamento.
Fonte: brasil61.com
