O aroma adocicado que paira no ar anuncia: o verão amazônico chegou a Roraima, e com ele, a temporada do caju. De Boa Vista ao interior, a paisagem se transforma em um festival de cores, com árvores generosas e o chão salpicado de tons vibrantes de amarelo e vermelho, convidando a todos a saborear a fruta diretamente do pé.
Gilmar Silva, professor de espanhol, personifica esse entusiasmo. Aproveitando a abundância de cajueiros na Avenida Ene Garcez, no coração de Boa Vista, ele se dedica à colheita dos frutos. A cena, com a natureza disputando espaço com o trânsito, demonstra a generosidade da safra: “Vi um ônibus passar e bater nos galhos, e caiu muito caju”, relata Gilmar.
Os cajus coletados por Gilmar têm um destino nobre: a cozinha de sua casa. “Outro dia catei alguns e minha esposa fez doce. Ela pediu para que eu viesse hoje de novo. Ela gostou do doce e quis fazer para os filhos também”, completa.
A iniciativa de Gilmar reflete o ápice da safra do caju em Roraima, que se estende de agosto a meados de dezembro. Esse período coincide com o verão amazônico, marcado pela diminuição das chuvas e pelo aumento do calor.
Essa sincronia popularizou o termo “chuva do caju” entre os roraimenses. No entanto, pesquisadores alertam que o excesso de água pode ser prejudicial. Cássia Pedrozo, pesquisadora da Embrapa Roraima, explica que a chave para uma boa safra não é a chuva em si, mas o seu término. Os cajueiros necessitam de alta luminosidade e longos períodos de estiagem para florescerem.
“Às vezes, a ocorrência de chuvas durante essa fase de florescimento é problemática. Se forem chuvas fortes e constantes, nós praticamente não colhemos o caju nativo. Ele apodrece”, explica Cássia.
O caju de Roraima é nativo e se espalha naturalmente. As castanhas germinam próximas às árvores, e animais e pessoas dispersam as sementes. Por isso, a fruta surge tanto nos campos do interior quanto nas calçadas da capital.
As condições climáticas de 2025 se mostraram ideais para a safra. “O florescimento tem sido intenso este ano Isso ocorre porque estamos tendo chuvas pequenas, bem espaçadas, passageiras e muito localizadas. Isso favorece a frutificação”, detalha a especialista.
A diversidade genética é outra característica marcante dos cajueiros roraimenses. É difícil encontrar dois cajueiros idênticos, seja em tamanho, altura ou densidade da copa. Essa variabilidade se reflete também nos frutos, com diferentes cores, tamanhos e sabores.
Essa riqueza genética despertou o interesse da ciência. A Embrapa realiza coletas constantes de materiais no estado para enviar ao Banco de Germoplasma no Ceará, referência nacional na cultura. O objetivo é utilizar a resistência do caju roraimense, adaptado ao solo arenoso e de baixa fertilidade do lavrado, para desenvolver clones mais produtivos e expandir o cultivo para todo o Brasil.
Além do uso em sucos e doces caseiros, o caju nativo é uma importante fonte de renda para comunidades indígenas, especialmente na região de Normandia. A colheita extrativista da castanha movimenta a economia local, com o processamento artesanal e a venda em feiras e mercados.
Seja in natura, em forma de doce ou castanha torrada, o caju reafirma seu papel na identidade local durante o verão amazônico.
5 Dicas para Aproveitar a Temporada do Caju em Roraima:
1. Explore a diversidade: Experimente diferentes tipos de caju, buscando aqueles com sabores e texturas que mais te agradam.
2. Aproveite a fruta fresca: Consuma o caju in natura, aproveitando seu sabor único e suas propriedades nutricionais.
3. Prepare receitas deliciosas: Use o caju para fazer sucos, doces, geleias e outros pratos criativos.
4. Valorize a produção local: Compre cajus de produtores locais e comunidades indígenas, contribuindo para a economia da região.
5. Conheça a história do caju: Descubra a importância cultural e econômica do caju para Roraima e a Amazônia.
Setentrional.com: Conectando você com as notícias que importam na Amazônia Legal.
Fonte: https://g1.globo.com
