Lideranças do povo Munduruku foram recebidas em Belém, na manhã desta sexta-feira, pelo presidente da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), André Corrêa do Lago. O encontro ocorreu após um protesto pacífico realizado pelos indígenas na entrada principal do evento.
A manifestação, que transcorreu sem incidentes, teve como consequência um tempo de espera maior para a entrada dos participantes da COP. A reunião com o presidente da COP30 foi realizada em um edifício anexo ao Tribunal de Justiça do Pará, próximo à área oficial de negociações.
Além de André Corrêa do Lago, participaram do encontro as ministras Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima). Corrêa do Lago destacou que o diálogo foi construtivo e positivo, ressaltando as preocupações “fortes e legítimas” dos indígenas. Ele informou que dois documentos foram recebidos formalmente e que buscará levar adiante todas as preocupações transmitidas.
Entre as principais reivindicações dos indígenas está a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que prevê a privatização de empreendimentos públicos federais do setor hidroviário, incluindo o Rio Tapajós. A construção da Ferrogrão, uma ferrovia que ligará o Mato Grosso ao Pará para o escoamento da produção agrícola, também é alvo de críticas, devido aos impactos sobre o modo de vida dos indígenas e à pressão sobre suas terras.
O Movimento Munduruku Ipereg Ayu denunciou que o corredor Tapajós-Arco Norte é um dos principais vetores de avanço do agronegócio sobre a Amazônia, com base em dados do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). O povo Munduruku também protesta contra as negociações climáticas internacionais que, segundo eles, tratam as matas nativas como meros ativos de crédito de carbono. Cartazes exibiam frases como “Nossa Floresta não Está à Venda” e “Não Negociamos a Mãe Natureza”.
A ministra Sônia Guajajara classificou a manifestação como legítima e informou que os indígenas solicitaram esclarecimentos sobre processos demarcatórios envolvendo as áreas tradicionalmente ocupadas por eles, Sawre Ba’pim e Sawré Muybu, ambas no município de Itaituba, na bacia do Rio Tapajós. Segundo ela, o processo demarcatório do Sawré Muybu já foi assinado e está na Funai para a contratação de uma empresa para realizar a demarcação física. Sobre a demarcação do território Sawre Ba’pim, a ministra informou que o processo está no Ministério da Justiça para a assinatura da portaria declaratória.
Marina Silva afirmou que não há pedido de licenciamento da Ferrogrão em análise pelo Ibama, pois o processo está judicializado e o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) foi considerado inadequado e devolvido. A ministra informou que encaminhará a demanda dos indígenas sobre a privatização das hidrovias para o Ministério dos Transportes.
Sônia Guajajara também informou que 360 lideranças indígenas de todo o Brasil estão credenciadas para acompanhar as negociações na Zona Azul da COP30, sendo 150 de povos da Amazônia.
Alessandra Munduruku afirmou que o grupo mantém o pedido de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente para revogar o decreto que autoriza a concessão de hidrovia na bacia do Tapajós. “A nossa preocupação é o decreto e a Ferrogrão, isso vai nos prejudicar bastante”, disse Alessandra, ressaltando a importância de serem ouvidos e consultados dentro do território, pois a decisão é coletiva.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br
