Familiares de pessoas desaparecidas de 50 países se reuniram em Genebra, na Suíça, e online, para discutir políticas de apoio e compartilhar experiências. A conferência, que se iniciou na última terça-feira e se encerra hoje, conta com a participação de aproximadamente 900 pessoas e é promovida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e pelas sociedades nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
A delegação brasileira, composta por cerca de 50 pessoas, participa do evento a partir da sede do CICV em São Paulo. Representantes de associações de familiares de nove estados estão presentes, compartilhando suas vivências e colaborando com os debates.
Segundo Fernanda Baldo, Oficial de Proteção do CICV, os núcleos de familiares se formam com o objetivo de aprimorar os mecanismos de busca, construir redes de apoio e atender às necessidades físicas, de saúde, jurídicas e de memória dos familiares. O objetivo é oferecer “serviços que consigam responder às necessidades que esse fenômeno traz para quem segue buscando”. A conferência permite que esses grupos locais, já articulados, conheçam outras realidades e aprimorem seus trabalhos.
Um dos pontos que o Brasil apresenta na conferência é a experiência do Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas, lançado oficialmente em agosto de 2025. A rede reúne diversas associações locais, como Mães da Sé, Mães em Luta e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, entre outras.
Ainda de acordo com Baldo, o discurso dos familiares tem evoluído ao longo das conferências, passando de relatos de dores e casos concretos para a definição de objetivos estratégicos e demandas claras.
O Brasil enfrenta o desafio de integrar diferentes lutas, considerando os familiares de desaparecidos durante o regime militar e aqueles que perderam contato com seus entes queridos em outros contextos. Há também a necessidade de garantir reuniões regulares com os implementadores da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, dos ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos e Cidadania, para monitorar a implementação dessas políticas.
As associações brasileiras também reivindicam a construção de um Banco Nacional de Amostras Genéticas e a consolidação do Cadastro Nacional de Desaparecidos, que ainda enfrenta desafios para integrar os bancos de dados dos estados.
A integração dos familiares começou em 2015, quando a Cruz Vermelha atuou junto às famílias de desaparecidos no regime militar mobilizadas em torno da vala clandestina do cemitério de Perus, em São Paulo. Hânya Pereira Rego, representante do Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas, relata que esse trabalho permitiu superar conflitos e unir vozes em busca de informações e direitos.
José Benjamim Gamboa Lizarazo, da Asociación de Familiares de Detenidos – Desaparecidos (Asfaddes) da Colômbia, destaca a importância da mobilização para que a busca por desaparecidos fosse incluída nos processos de paz entre grupos guerrilheiros e o governo. Ele denuncia a dificuldade em obter eficácia nas medidas de busca, devido à falta de atuação das instituições e à persistência de confrontos armados.
A conferência, em sua maior parte fechada a observadores externos, busca garantir a segurança dos participantes. Os momentos públicos serão divulgados nos canais da Cruz Vermelha. Familiares de pessoas desaparecidas interessados em participar de mobilizações podem procurar os grupos de articulação locais e redes de assistência social.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br
